Cenoura e traição: Novela da Globo que gerou polêmica ficou marcada por bastidores picantes
06/06/2024 às 14h15
Novela da Globo se destacou pelos motivos errados, a trama teve bastidores conturbados, inclusive com detalhes “picantes” envolvendo seu elenco
Há precisamente 47 anos, em 13 de dezembro de 1976, a Globo estreava na faixa das oito a novela Duas Vidas, concebida por Janete Clair.
A escritora, reconhecida como uma das maiores dramaturgas brasileiras, já havia emplacado diversos êxitos, porém Duas Vidas acabou não recebendo grande destaque em sua lista de obras.
Na verdade, a novela se destacou pelos motivos equivocados: a trama enfrentou problemas nos bastidores, inclusive com detalhes “sensacionalistas” envolvendo seu elenco.
A protagonista Betty Faria e o diretor Daniel Filho acabaram se envolvendo em um escândalo na época.
Com Duas Vidas, Janete Clair buscava consolidar uma fase “realista” de sua carreira. A autora, até então, era adepta do folhetim exagerado e fantasioso.
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Contudo, com Pecado Capital (1975), ela iniciava um estilo mais “pragmático”. Duas Vidas emerge nesse contexto.
A obra não acabou sendo bem aceita
A narrativa retrata a vida de cariocas que são desapropriados do bairro do Catete devido a uma obra para a construção de um metrô, lançando uma crítica social sobre o impacto do progresso na vida das pessoas.
Uma das famílias desapropriadas é a de Grego (Sadi Cabral), que vai morar no apartamento onde o filho Tomás (Cecil Thiré) reside com a esposa Leda Maria (Betty Faria).
Porém, após a morte de Tomás, Leda se vê envolvida com o médico Vitor Amadeu (Francisco Cuoco) e também com o aspirante a cantor Dino César (Mário Gomes), seu amor de juventude.
No entanto, o artista se aproxima de Cláudia (Susana Vieira), a proprietária de uma gravadora. Duas Vidas recebeu uma recepção moderada por parte do público.
Entretanto, os tumultos nos bastidores da trama alimentaram os jornais e as revistas de fofoca. Na época, surgiram comentários sobre um relacionamento amoroso entre Betty Faria e Mário Gomes, iniciado durante as filmagens do filme O Cortiço.
Daniel Filho, diretor da novela que era casado com Betty na época, acabou deixando a produção. Com isso, Gonzaga Blota e Jardel Mello assumiram a condução da trama às pressas.
Após isso, Mário Gomes ainda se viu envolvido em outra polêmica. O jornal Luta Democrática publicou que o galã havia acabado internado em um hospital com uma cenoura presa no ânus.
Segundo o site Teledramaturgia, do pesquisador Nilson Xavier, a fofoca teria sido originada por Carlos Imperial, produtor musical e cineasta.
O boato seria uma retaliação de Imperial contra Gomes. Isso porque, em 1976, o cineasta espalhou pela cidade cartazes do ator vestido de mulher para promover o filme O Sexo das Bonecas.
A escritora enviou carta ao governo
Mário Gomes não teria apreciado a iniciativa e recorreu à Justiça, conseguindo a retirada dos cartazes.
Além de todo o imbróglio envolvendo Daniel Filho, Betty Faria e Mário Gomes, Duas Vidas também enfrentou a censura. O Brasil ainda estava sob a Ditadura Militar e Janete Clair fazia justamente uma crítica às obras do metrô, que eram do Governo Federal.
A censura contestou vários aspectos da trama, como o romance entre a madura Sônia (Isabel Ribeiro) e o jovem Maurício (Stepan Nercessian). Tudo isso fez os censores afirmarem que Duas Vidas era subversiva e atentava contra a moral e os bons costumes.
Janete Clair, incomodada, enviou uma carta à Divisão de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal: “Quem lhe escreve é uma escritora perplexa e desorientada diante dos cortes que vêm sendo feitos pela Censura Federal nos últimos capítulos da novela Duas Vidas”.
“Perplexa e desorientada não apenas pela drástica mutilação da obra que venho realizando, como também diante do incompreensível critério que orienta a ação dos censores”, indagou.
“De fato, não consigo entender que conceitos morais ou de qualquer natureza possam determinar a proibição de um romance de amor entre um jovem e uma mulher madura, ambos solteiros”, disse.
“Não posso entender igualmente por que razão foi proibida outra cena na qual o dono de uma loja de móveis reclama da poeira produzida pelas obras do metrô, que suja seus móveis e afugenta a clientela, quando todos nós sabemos dos transtornos causados por essa obra pública (…)”, escreveu a escritora da Globo.