Astro da Globo, em estado terminal, desistiu de realizar seu maior sonho

Considerado um dos destacados atores do Brasil, o ator da Globo teve uma trajetória de excelência no cinema e no palco

A popularidade de André Valli consolidou-se na televisão, ao protagonizar um renomado clássico infantil: a adaptação da Globo do Sítio do Picapau Amarelo (1977-1986), baseada na obra de Monteiro Lobato.

Valli se consagrou como Visconde de Sabugosa, um dos principais personagens da narrativa brasileira. O ator nos deixou aos 62 anos, apenas um mês depois de receber o diagnóstico de um câncer terminal. Ele partiu sem realizar seu maior desejo.

André Valli adotou o pseudônimo de Joaquim dos Santos Bonifácio. Ele estreou na televisão em 1971, interpretando Godofredo na novela O Cafona. Posteriormente, participou de outros dramas clássicos, como O Bem-Amado (1973) e Escrava Isaura (1976).

Em 1977, ele encarnou o personagem do Visconde de Sabugosa na marcante versão do Sítio do Picapau Amarelo, na Globo. O milho falante e perspicaz era um dos protagonistas da atração, que também contava com Zilka Salaberry (Dona Benta) e Jacyra Sampaio (Tia Nastácia).

Após o término do programa, Valli participou de outras produções televisivas. No entanto, foi principalmente pelo papel na série infantil que ele ficou marcado. Tanto que o ator conquistou o apreço dos descendentes de Monteiro Lobato.

“André Valli foi um excelente Visconde, o melhor de todos. O Visconde é o personagem que mais aprecio, é o meu favorito, com o qual mais me identifico. Ele descobriu o pó de pirlimpimpim, que era o sonho da minha infância. André Valli o interpretou com grande dignidade”, afirmou Joyce Campos, neta de Lobato, ao jornal O Estado de S. Paulo, em 2008.

O fato de ser sempre lembrado como o Visconde não incomodava o ator, pelo contrário.

André Valli e Remy de Oliveira no Sítio do Picapau Amarelo (Foto: reprodução/Globo)

Descoberta do câncer

“Hoje mesmo, estava na fila de um banco e precisei passar na frente de uma mulher um pouco para pegar um papel, mas não queria que ela pensasse que queria furar. Pedi licença e ela respondeu: ‘Claro, meu Visconde, toda a licença do mundo para o senhor’”, relatou ele ao jornal O Estado de S. Paulo, em 2007.

Com o fim do Sítio do Picapau Amarelo, André Valli participou de outras novelas, como Pecado Capital (1998) e Laços de Família (2000), na Globo. Em 2006, mudou-se para a Record, atuando em Cidadão Brasileiro e Vidas Opostas (2007).

Entretanto, em maio de 2008, o ator foi diagnosticado com um câncer devastador no pâncreas e no fígado, que o levou no mês seguinte. Ele faleceu em 20 de junho de 2008, aos 62 anos.

“Ele descobriu porque sentiu uma leve dor na barriga. O câncer estava muito avançado. Levamos um susto enorme: foi um choque”, detalhou seu empresário, Luciano Borges, ao Estadão, explicando também que o tumor foi descoberto quando já não havia mais chance de cura.

André Valli morreu enquanto dormia em seu apartamento, no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ). Seu corpo foi velado no Teatro Villa-Lobos e, posteriormente, levado à sua cidade natal, Recife (PE), onde foi sepultado.

Assim, ainda em entrevista ao Estadão, o empresário Luciano Borges relatou que André Valli estava buscando recursos para montar Dom Quixote no teatro.

Contudo, na ocasião de sua morte, um amigo do ator revelou ao site G1 que interpretar o personagem criado por Miguel de Cervantes era um desejo antigo.

“André era um ator de teatro. O grande amor da vida dele era Nelson Rodrigues. Ele interpretou vários personagens de Nelson e seu sonho era montar Dom Quixote”, explicou.

André Valli em Laços de Família (Foto: reprodução/Globo)