Famoso autor da Globo revelou que a emissora vetou romance entre homens em novela

13/03/2024 às 11h22

Por: Wellington Silva
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Romance gay em novela da Globo (Foto: Reprodução - Globo)

Muito diferente do que rola nas produções atuais, a emissora Globo já se demostrou totalmente contra mostrar casais do mesmo sexo em suas novelas

A Globo tem amplificado como nenhum outro canal de TV no Brasil a disposição em dar voz a cores e gêneros diversos. Mas nem sempre foi assim. Nos anos 1980, 1990, a censura interna sobre temáticas meramente homossexuais era fato, segundo revelações feitas pelo dramaturgo Silvio de Abreu.

Fora da emissora, Silvio de Abreu escreveu várias novelas e minisséries para a Globo, onde ocupou, de 2014 a março passado, a direção de teledramaturgia da emissora. Na entrevista a Tony Goes, ele admitiu pela primeira vez que a morte do casal de lésbicas na novela “Torre de Babel” (1998/99) foi consequência de um veto imposto pela diretoria da Globo na época à temática abordada pelo par formado por Christiane Torloni e Silvia Pfeifer no enredo.

Ex-Autor da Globo Silvio de Abreu (Foto: Reprodução, Globo)
Ex-Autor da Globo Silvio de Abreu (Foto: Reprodução, Globo)

Embora muito se atribuísse a morte das personagens à rejeição do público, foi a imposição da direção da empresa que determinou o desfecho encontrado pelo dramaturgo, que conta que chegou a pedir demissão na época.

Ele revelou ainda outros casos de interferência da direção da empresa em temáticas sexuais que fugissem da conceitual família brasileira. O autor contou que teve cena cortada pela direção da Globo no final de “Deus nos Acuda” referendada inclusive por um clássico do cinema, “Quanto Mais Quente Melhor” (1959), e revela que escreveu dez episódios da série “Boca do Lixo”, mas teve apenas oito gravados, também por restrições ao debate de gênero.

Novela Deus nos Acuda (Foto: Reprodução, Globo)
Novela Deus nos Acuda (Foto: Reprodução, Globo)

Homofobia?

Ao citar a rejeição da audiência ao casal de lésbicas de “Babilônia”, de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. Lembrou que o problema enfrentado na ocasião foi parecido com a recusa que ele também teve das personagens em “Torre de Babel”. A condição homossexual foi apresentada ao público antes que aquelas personagens tivessem a chance de cativar a audiência por outros fatores. Como aconteceu com Sandrinho (André Gonçalves) e Jeferson (Lui Mendes) em “A Próxima Vítima” (1995).

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Goes lembra também do beijo gay cortado de “América” (2005), de Glória Perez, entre Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro. Contudo, avanço em 2013, com “Amor à Vida”, quando finalmente o primeiro beijo gay em novela foi ao ar pela Globo, entre Mateus Solano e Thiago Fragoso.

Novela Amor a Vida (Foto: Reprodução, Globo)
Novela Amor a Vida (Foto: Reprodução, Globo)

“Eu escrevi dez episódios, foram ao ar oito. Muita coisa do mundo homossexual foi cortada, antes mesmo de ser gravada. Quando a história começava apresentar o personagem dele, apresentava muito do mundo homossexual, mas isso não teve na minissérie. Mas um mergulho mais profundo nesse mundo que eu queria fazer, eu não pude fazer.” Disse por fim.

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