Sítio do Pica-pau Amarelo virou maldição na vida de atriz da Globo: “Me prejudicou”

Apesar da artista ter feito parte de tantos e importantes papéis na Globo, a famosa afirmou que o seriado atrapalhou seu retorno as novelas

Uma nova versão da Sítio do Pica-pau Amarelo está em processo de preparação pelo SBT. Trata-se de mais uma entre as várias adaptações da obra de Monteiro Lobato para a televisão, que já teve presença na Tupi, Cultura, Band e Globo.

Essa última foi responsável pela adaptação mais conhecida, no final dos anos 1970. O Sitio do Pica-pau Amarelo da Globo marcou toda uma geração, que sonhava em ser neto da simpática Dona Benta.

Interpretada pela saudosa Zilka Salaberry, a figura amigável que transmitia sabedoria e conhecimento encantou o público.

No entanto, de certa forma, acabou prejudicando a trajetória da atriz, conforme sua percepção.

Zilka Salaberry, de diversos e marcantes papéis na TV, como em Irmãos Coragem (1970), O Bem-Amado (1973), Vale Tudo (1988), Que Rei Sou Eu? (1989), Araponga (1990) e Pecado Capital (1998).

Considerou que a idosa de voz doce e bom coração da Fazenda (1977 a 1986) acabou dificultando seu retorno aos dramas televisivos.

“As pessoas choram e me abraçam como se eu fosse a Dona Benta, que transmitia sabedoria. Mas a personagem prejudicou minha volta às novelas”, avaliou a atriz em uma conversa com o Jornal do Brasil.

“Quando fiz Teresa Batista e interpretava a proprietária de um bordel, as pessoas que acompanhavam as gravações diziam, por exemplo, que a Dona Benta está tão bonita”, afirmou.

Apesar de tantos e importantes papéis, a famosa afirmava para quem quisesse ouvir que a personagem favorita de sua carreira foi a Sinhana da novela Irmãos Coragem.

Zilka Sallaberry (Foto: reprodução/ Globo)

A famosa foi casada com ator famoso

Outra revelação de Zilka foi feita na década de 70, quando afirmou que não havia enriquecido mesmo trabalhando constantemente na TV e sendo uma das primeiras contratadas da Globo.

“Hoje, embora tenha alcançado um certo respeito pelo meu trabalho e uma boa popularidade, posso dizer que não estou rica. Se amanhã eu parar de trabalhar, não terei de onde tirar sustento”, disse em 1975 à revista Amiga de 15 de janeiro daquele mesmo ano.

Iniciando a carreira na atuação em 1930, Zilka estreou na TV em 1956 participando de seriados e programas, até finalmente chegar às telenovelas na década seguinte.

Começou em A Morta do Espelho, coprodução entre a extinta TV Rio e a Record, filmada em 1963. Chegou à Globo em 1965 em Rosinha do Sobrado, mas o contrato fixo com a emissora não ocorreu tão rapidamente.

“Contrato mesmo eu só vim assinar na Globo, em 1969, depois de trabalhar bastante tempo mediante cachê. Talvez tenha sido a partir daí, durante Irmãos Coragem, que percebi meu próprio potencial em relação à TV”, contou ao Jornal do Brasil.

“Desde então, resolvi me dedicar exclusivamente à televisão, até porque não pretendo morrer devido ao excesso de trabalho”, completou Salaberry.

Zilka herdou o sobrenome famoso de seu marido, Mário Salaberry, que também era ator, com quem teve um filho. O amado, no entanto, faleceu em 1951. Zilka era ainda filha, neta e irmã de artistas.

Nos anos 1990, a atriz atuou em Araponga e em minisséries, além de ter feito participações especiais em várias novelas e programas.

Mas seu retorno aos folhetins com um personagem fixo se deu apenas em 1998, em Pecado Capital. Por problemas de saúde, porém, a veterana deixaria a trama antes do fim.

Zilka Salaberry como a Dona Benta do Sítio do Picapau Amarelo. Zilka Sallaberry (Foto: reprodução/ Globo)

A artista adoeceu

“Às vezes, eu pensava: ‘Será que eu estava me despedindo ali das novelas e nem sabia?’. Também ficava chateada porque as pessoas me perguntavam na rua quando eu apareceria de novo e eu não sabia o que responder”, desabafou ao O Globo de 27 de setembro de 1998.

Com problemas de saúde e chegando a usar cadeira de rodas, Zilka Salaberry faleceu em 10 de março de 2005, aos 87 anos.

Ela estava internada desde 15 de fevereiro no Hospital Samaritano, localizado no Rio de Janeiro, sofrendo de uma doença pulmonar, além de insuficiência renal, infecção urinária e desidratação aguda.

A eterna Dona Benta, que adorava ser chamada de “vó” pelas crianças na rua, não deixou herdeiros, já que seu único filho havia falecido três anos antes. Amigos e admiradores compareceram à despedida da atriz.

“Estou muito triste. Além de grande companheira, ela foi uma grande atriz, que talvez não tenha tido em vida o reconhecimento merecido. Nunca vai haver uma Dona Benta como ela”, desabafou André Valli, intérprete do Visconde de Sabugosa na fase clássica do Sitio.

Apesar do enorme sucesso como a personagem dos contos infantis, Zilka ainda se destacaria com outros papéis em minisséries como Teresa Batista (1992), Engraçadinha (1995) e o remake de Irmãos Coragem (1995).

Seu último papel na TV foi em Esperança (2002). Pode ser vista atualmente através da reprise de Corpo Dourado (1998), em exibição pelo canal Viva.

Zilka Sallaberry (Foto: reprodução/ Globo)